Crônicas da Ari https://kairoscomunicacao.com/ My WordPress Blog Thu, 10 Apr 2025 12:48:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.7.2 Capítulo 1 – Nasci no meio da bagunça https://kairoscomunicacao.com/nasci-no-meio-da-bagunca-relacionamento-ruim-com-a-mae/ https://kairoscomunicacao.com/nasci-no-meio-da-bagunca-relacionamento-ruim-com-a-mae/#respond Thu, 10 Apr 2025 12:46:03 +0000 https://kairoscomunicacao.com/?p=71 Capítulo 1: Nasci no meio da bagunça Não lembro da minha vida ter tido um início suave. Não houve aquele clichê de “nasci em um lar cheio de amor”. Eu nasci no meio da bagunça. Literalmente. Minha mãe tinha 17 quando eu nasci, ainda menina, ainda tentando descobrir quem era. Engravidou de mim numa relação […]

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Representação ilustrativa do abandono que senti da minha mãe.

Capítulo 1: Nasci no meio da bagunça

Não lembro da minha vida ter tido um início suave. Não houve aquele clichê de “nasci em um lar cheio de amor”. Eu nasci no meio da bagunça. Literalmente.

Minha mãe tinha 17 quando eu nasci, ainda menina, ainda tentando descobrir quem era. Engravidou de mim numa relação que não foi feita de escolha, mas de consequência. Meu pai, ao que parece, nunca quis ser pai. E minha mãe, talvez nunca quisesse ser mãe. Não naquela hora, não daquele jeito. A gravidez não foi celebrada. Eu não fui esperada. Eu fui um acidente emocional.

Cresci num lar onde o amor era ausente e a tensão era o tempero do dia a dia. Brigas, silêncios pesados, traições, gritos. Mas havia um detalhe: meu pai, apesar de tudo, se encantou por mim. Até uns dez anos de idade, ele foi meu parceiro, meu protetor. Eu era a princesa dele — inteligente, obediente, a filha que ele mostrava com orgulho. Isso fazia minha mãe me odiar ainda mais. Lembro com pesar que a única vez que minha mãe me deu colo depois de bebê foi quando tive uma dor de ouvido horrível. E mesmo naquele momento de cuidado, eu senti o desconforto dela em me tocar, como se estivesse sendo obrigada, como se aquilo fosse um peso. Talvez por isso, hoje, como mãe, eu faça questão de dar carinho às minhas filhas. Porque sei, na carne e na memória, o quanto essa ausência dói. Minha mãe me dizia, mais de uma vez, que eu tinha estragado a vida dela. Que se eu não tivesse nascido, ela teria tido uma vida diferente. Melhores oportunidades. Mais liberdade. Mais alegria.

Eu era a razão da tristeza dela, e essa culpa, mesmo eu não entendendo completamente, se alojou em mim como uma segunda pele. Como se desde o primeiro respiro eu devesse algo ao mundo. Como se minha existência precisasse ser justificada com serviço, com obediência, com perfeição.

E assim foi. Eu aprendi cedo a não dar trabalho. A ser a filha que não chora alto, que entende tudo rápido, que ajuda, que cozinha, que limpa, que estuda, que não reclama. Porque se eu fizesse tudo certo, quem sabe minha mãe voltasse a sorrir.

Mas ela não sorria. E eu fui crescendo com a sensação de que não importa o quanto eu fizesse, nada nunca seria suficiente.

Esse foi o meu início. O primeiro ciclo que me ensinou: se eu não posso ser amada por existir, talvez eu consiga ser amada por me anular.

E foi com essa bagagem que eu comecei a repetir tudo o que não entendia. Ainda sem saber que um dia, tudo isso viraria palavra escrita. E quem sabe, cura.

“Eu julgava muito minha mãe pelo comortamento dela, mas hoje eu entendo e perdoei.”

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